Adeus Paranjana
Se você quer conhecer Fortaleza, é muito simples. Eu te ofereço uma carona na última viagem do Paranjana. Vamos? Um típico morador de Fortaleza, com certeza, em algum momento, já usou essa linha que percorre 46 km, passando pelos terminais de Antônio Bezerra, Lagoa, Papicu e Parangaba.
Com 105 paradas em todo seu trajeto, leva, diariamente, entre 42 e 48 mil passageiros, cada um ali com suas histórias, fatos e experiências. Tem a empregada doméstica que sai da periferia ainda com o sol nascendo, com destino “as Aldeotas”.
Tem a vendedora de loja que luta por um espaço no ônibus e reza para alguém segurar os seus livros, pois, depois do trabalho, ainda terá um segundo expediente: o da escola. Tem o espertalhão que tira vantagem do desatento e furta a carteira daquele trabalhador que possuía somente o dinheiro contado da passagem.
Há os enxeridos que aproveitam o balanço do ônibus para acochar as meninas. Há os evangélicos que, vendo uma multidão, não perdem a oportunidade de pregar. Há os vendedores de bala que podiam está “matando ou roubando”, mas estão ali pedindo aos passageiros. Há os apressados que xingam o motorista em cada curva desastrosa. Há os solícitos que gritam lá do fundão: “abre a porta que a mulher tá presa”.
E existe eu e você que também embarcamos na aventura do Paranjana que, do ponto inicial ao final, demora 2h para percorrer. Nesse espaço de tempo, conhecemos pessoas, encontramos amores, presenciamos brigas, sobrevivemos aos assaltos, pegamos doenças...Tenho amigos que afirmam que os anticorpos que têm são graças às viagens no Paranjana.
Chego ao fim do meu percurso e desembarco desta linha que, de uma forma ou de outra, fez parte da vida de muitos fortalezenses, promovendo um movimento pendular que se constitui no vaivém dos trabalhadores e estudantes, da ida e volta de suas residências até o serviço ou escola, normalmente, localizados distantes de suas moradas.
E se você não teve oportunidade de conhecer o Paranjana, não fique triste, você tem uma segunda chance: embarque no Grande Circular, quem sabe a gente se encontra por lá. E para você, Paranjana, fica meu adeus, só não posso dizer que sentirei saudades.
Helayne Serafim / Jornalista
categoria: Crônica
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