Uma mulher à frente do seu tempo!

Filha de Daniel de Queiroz e Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, portanto, parente do autor de Iracema, e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes lançadas em Quixadá e Beberibe, eis a origem da ilustre cearense Raquel de Queiroz.

Professora, jornalista, romancista, cronista e teatróloga, Raquel de Queiroz nasceu em Fortaleza, em 17 de novembro de1910. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (1977) eleita para a Cadeira de nº 5, na sucessão de Cândido Mota Filho, e uma das mais importantes romancistas do movimento regionalista contemporâneo do Nordeste.

Em 1917, viajou com a família para o Rio de Janeiro, onde procurava, através da migração, fugir dos horrores da seca de 1915. Regressando à Fortaleza, a autora matriculou-se no Colégio da Imaculada Conceição, diplomando-se em 1925, aos 15 anos de idade.

Estreou no jornalismo em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, publicando trabalho no jornal O Ceará, do qual se tornou redatora efetiva. Em fins de 1930, publicou o romance O Quinze, que teve inesperada e grande repercussão no Rio e em São Paulo.

Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance social, profundamente realista em sua busca por mostrar a luta secular de um povo contra a miséria e a seca. Em sua primeira edição, O Quinze apareceu em modesta tiragem de mil exemplares, recebendo crítica de Augusto Frederico e Graça Aranha. A consagração veio com o Prêmio da Fundação Graça Aranha, que lhe foi concedido em 1931, ano de sua primeira distribuição oficial. Em 1932, publicou um novo romance, intitulado João Miguel; em 1937, retornou com Caminho de Pedras. Dois anos depois, conquistou o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, com o romance As Três Marias.

No Rio, onde residiu desde 1939, colaborou no Diário de Notícias, em O Cruzeiro e em O Jorna). Cronista emérita publicou mais de duas mil crônicas. Para o teatro escreveu duas peças, Lampião, escrita em 1953, e A Beata Maria do Egito, de 1958, agraciada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro. No campo da literatura infantil, escreveu o livro O menino mágico, a pedido de Lúcia Benedetti.  A obra surgiu, entretanto, das histórias que a autora inventava para seus netos. Dentre as suas atividades, destacava-se também a de tradutora, com cerca de quarenta volumes já vertidos para o português.

A escritora foi membro do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou da 21ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em 1966, em que serviu como delegada do Brasil, trabalhando, especialmente, na Comissão de Direitos do Homem. Em 1988, iniciou a colaboração semanal no jornal O Estado de São Paulo e no Diário de Pernambuco.

Seu último grande sucesso literário foi Memorial de Maria Moura (1992) que se tornou minissérie de televisão. Sofrendo de diabetes, Raquel de Queiroz morreu enquanto dormia, em sua casa no bairro do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, 13 dias antes de completar 93 anos, vítima de um infarto do miocárdio. Se ainda estivesse viva, a escritora cearense completaria em 17 de novembro do ano corrente, 100 anos de idade, muito embora sua partida signifique uma perda para a literatura brasileira, sua arte e vasta obra continuam a inspirar toda uma geração, que vê nas letras, uma forma também, de expressão, voz e vez.

Mara de Moura / Acadêmica de Letras da UFC

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